Mês da Mulher: Monitoradas que atuam na Ceasa participam de roda de conversa promovida pelo NEPSD e Nupem 20/03/2024 - 15:33
Na tarde desta terça-feira (19), um grupo formado por oito mulheres monitoradas com tornozeleira eletrônica e que trabalham no banco de alimentos da Ceasa (Central de Abastecimento do Paraná), em Curitiba, participou de uma roda de conversa promovida pelo Núcleo Estadual de Política Sobre Drogas (NEPSD) da Secretaria da Segurança Pública (SESP), em parceria com o Núcleo de Atendimento a Pessoas em Monitoração Eletrônica (Nupem), da Polícia Penal do Paraná (PPPR), em ação alusiva ao Mês da Mulher.
O diálogo foi conduzido pela administradora de empresas, advogada, teóloga e pós-graduanda em neurociência, Ana Paula Rocha, com objetivo de realizar uma reflexão sobre o caminho realizado por essas mulheres que as levaram ao cometimento de crime e a passagem pelo sistema prisional, bem como efetuar uma visão de futuro com base no renascimento da autoestima, recomeço de vida após período em reclusão.
A assessora da direção do NEPSD, Renata Torres, conta que a ideia desta ação é mostrar para essas mulheres a história de vida da palestrante e propor uma reflexão sobre as vidas delas mesmas. “Nossa palestrante desta tarde possui história de redenção, de caminhos escolhidos, de problemas relacionados a muita violência doméstica e patrimonial que ela viveu e conseguiu se reerguer de um lugar tão difícil. Usamos o método de escuta ativa destas mulheres em monitoramento, para efetuar uma troca de informações e experiências. Cada uma delas pode refletir sobre suas próprias histórias e, assim, trilhar novos caminhos”, explica Renata.
“Considero muito importante ouvir a voz destas mulheres. Hoje, no mundo em que a gente vive, uma das maiores dificuldades do ser humano é ouvir. É muito importante para estas mulheres, entender esse processo pelo qual estão passando. O que nós podemos fazer para ajudá-las a reconstruírem suas vidas? Esta atividade é importante para saber como elas estão se sentindo. Acredito ser necessário compartilhar minha história de vida com elas, pois passei por um processo muito difícil e optei por avançar”, destaca a palestrante Ana Paula.
Entre os assuntos debatidos estavam a vulnerabilidade social, o apoio familiar ou a falta dele, o aliciamento para o mundo do crime, que muitas vezes é feito de forma invisível ou pouco perceptível, além da importância do autocuidado. Não era incomum o relato das apenadas sobre baixa autoestima no período de cumprimento de pena e uso de tornozeleira.
“Sou filha única, não tive pai, precisei sustentar minha mãe, minha avó e meus filhos. Mais tarde também precisei garantir o sustento da minha sogra. Venho de uma família desestruturada, nunca tive a opção de pensar só em mim. As vezes estou destruída por dentro, mas se me perguntarem se estou bem, direi que estou”, compartilhou uma das monitoradas.
A palestrante destaca, também, que a reinserção no mercado de trabalho é fundamental para a recuperação destas mulheres. “Esta segunda chance de trabalho muitas vezes é a força que elas necessitam após a passagem pelo sistema prisional. Aliado a isso, o acompanhamento psicológico é de suma importância para que elas possam mostrar para elas mesmas, quem elas são em sua essência”, enfatiza.
Ana Paula tem estudado pós-graduação em neurociência e tem nisso uma ferramenta de conhecimento muito importante para ampliar os resultados nas ações que promove com foco, principalmente, nas mulheres. “Nós estamos vivendo um tempo em que as pessoas estão com ritmo de vida muito intenso e de muito stress, sendo que as pessoas acabam adoecendo. Cada vez mais doenças psicossomáticas estão surgindo. Ter ido para a neurociência me fez estudar esse mecanismo, entender estes comportamentos atuais e levar isso para os ambientes corporativos como forma de tentar resolver questões de saúde mental e melhorar a qualidade de vida. Eu queria entender como funciona a mente das mulheres que passaram por processos difíceis e de vulnerabilidade. Como trazer elas para atualidade, retomando suas vidas com a mente sadia e produtiva”, afirma Ana Paula Rocha.
Ana finalizou o diálogo pedindo para que cada uma das oito mulheres ali presentes não desistisse de dar a volta por cima e começar uma vida nova, para continuar buscando as coisas certas, que muitas vezes são mais trabalhosas mas que guardam resultados futuros recompensadores.
Para o coordenador do NEPSD, Renato Figueiroa "esta ação faz parte do Plano Estadual de Políticas Públicas Sobre Drogas lançado ano passado pelo NEPSD e tem por principal objetivo auxiliar a reinserção social destas mulheres e também diminuir a reincidência criminal".
NEPSD – O Núcleo Estadual de Políticas Sobre Drogas é uma unidade programática e executiva da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP), que tem por finalidade executar as políticas públicas sobre drogas no Estado do Paraná. O NEPSD alinha-se com diretrizes da política nacional brasileira, bem como, os marcos legais internacionais estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), atuando no planejamento, na coordenação e na avaliação das ações relacionadas aos diferentes eixos constitutivos que compõem as políticas públicas sobre drogas, que são educação e prevenção; tratamento, recuperação e (re)inserção social; redução dos danos sociais e à saúde; redução da oferta e da demanda; pesquisas e avaliações de projetos vinculados às políticas públicas sobre drogas.
Nesta perspectiva, o NEPSD possui a incumbência de orientar a implementação de projetos na esfera regional e municipal acerca do planejamento e implantação da política sobre drogas, priorizando o caráter interinstitucional e a descentralização no Estado.
Nupem – O Núcleo de Atendimento a Pessoas em Monitoração Eletrônica está inserido nos Complexos Sociais, atuantes nas regionais administrativas da Polícia Penal do Paraná. As equipes têm a incumbência e principal objetivo de atuar como apoio necessário para que as pessoas que saem do sistema penitenciário tenham maiores possibilidades de reintegração social. O Nupem também realiza o acolhimento, atendimento e encaminhamento dos monitorados para a rede de proteção social e as políticas públicas existentes.
FONTE: Polícia Penal do Paraná